Ontem apanhei um táxi o que é raro e caro na capital deste país.
Depois de entrar e dizer o local que queria ir o mais depressa possível, olho para o homem e deu-me logo vontade de rir.
Bem o homem era um pintas mas dos mais típicos desta cidade.
Camisinha aberta até ao umbigo bem avantajado e a pelugem a sair dela espetando o cordão de ouro como não podia deixar de ser. Nem queria acreditar que ainda havia destas aves raras.
O bigode bem farfalhudo e o seu sotaque Nortenho dava-lhe o toque delicioso.
Olhando para mim e com um sorriso começou logo a falar do último jogo da semana, assunto que eu bem dispensava porque é que todos os homens gostam tanto de falar de bola? Pensei logo se me estava a tornar mulher, odeio falar de futebol!
A conversa era muito agitada da parte dele com uns coxos, paneleiros, chulos, e miseráveis pelo meio eu limitava-me a uns um, umm, ha , pois pois mais parecia uma conversa entre um Português e um Mongol.
A dado momento e com uma travagem brusca só oiço: “seu filha da puta tira essa merda daí que eu quero passar” bem nem queria acreditar no que ouvia, eu corei até às orelhas, não é que eu não seja homem e mande algumas bojardas, mas tenham dó de mim era demais.
Mais meia dúzia de palavrões e seguimos viagem. A dada altura olho discretamente para a identificação do Senhor mesmo por baixo de um cãozinho daqueles que abanam a cabeça e leio: Joaquim Manel Figueiredo, profissional da Antral, sim senhor que grande profissional, pensei eu.
Mais uma mudança metida é quando eu vejo ele a ajeitar o anel à mafioso no seu dedo mindinho, em que se podia ler as iniciais JF e a unha bem grande, é mesmo nesse momento que vejo ele a palitar os dentes com ela e seguidamente a tirar a cera do ouvido que mais dava para encerar todo o chão da minha sala de jantar. Ainda por cima soltava-a para o banco do lado num golpe já tecnicamente apurado, o que vale é que eu ia no banco de trás. Parámos onde eu queria finalmente e despedi-me com uma simples frase: “Tenha uma boa tarde para o senhor porque eu já tive a minha.”
É assim os pintas de Portugal.
Ass: Felino
A pedido de muita gente aqui está escrita minha e de uma matéria que gosto muito, os pintas de Portugal.
É Sábado e o Sr. Silva vai até ao café.
Como é Sábado convém vestir uma roupinha mais desportiva.
O seu fato de treino roxo comprado na feira mais próxima é o ideal. A meia banca, para condizer com a risca da manga e como não tem ténis nada melhor do que o seu sapatinho de verniz bicudo.
O cabelo cheio de brilhantina cintilante e a pulseira de ouro com a medalhinha da nossa Senhora de Fátima dá o seu toque de macho latino. E lá vai ele com o seu andar gingão até à esquina. Chegado ao café pede uma mini como era habitual. Diz ele que é para matar o bicho. Mirando a vizinha do quinto andar o seu pensamento aquelas frases: És boa como ó milho, fazia-te, cozia-te enfim os seus pensamentos mais carnívoros dão asas à sua imaginação. Ela respeitosamente lha para ele com um sorriso crítico, cumprimenta-o.
Despois de dar dois arrotos e falar um pouco de futebol e do seu clube preferido sai para ir ter com os amigos à tasca mais próxima para dois dedos de conversa sobre o seu tema preferido, o futebol.
Mais uma mini e para abrir o apetite para o almoço vai um bagaço que cai sempre bem. É desafiado para uma suecada e como bem jogador as minis sucedem-se até à hora do almoço.
Já em casa, assim que entra grita à mulher se o almoço já está feito, sentando-se no sofá e abrindo o jornal “record” comprado há minutos.
Com o cozidinho à Portuguesa e a sua litrada de tinto já na barriga que mais parece uma barriga de grávida de oito meses, é hora da sesta para descansar a manhã árdua e agitada. É assim os pintas de Portugal.
Felino
O meu outro espaço